Em Paris, painel promovido pela CNseg discute o papel estratégico dos seguros na transição climática e defende integração de políticas públicas, investimento em modelagem de risco e ampliação do acesso à proteção
O avanço das mudanças climáticas e a intensificação dos desastres naturais vêm colocando o setor de seguros no centro da agenda global de adaptação e resiliência. No Brasil, o aumento das enchentes e secas tem pressionado seguradoras, elevando prêmios e limitando a cobertura em regiões mais vulneráveis. Na França, ondas de calor extremas, inundações e tempestades estão levando as companhias a reavaliar seus modelos atuariais. Esses desafios foram tema do painel “Seguros e a Transição Climática”, promovido pela CNseg em Paris durante o Fórum Brasil–França de Seguros.
Moderado por Christian Pierotti, chairman do Climate Risks Working Party da GFIA (Federação Global das Associações de Seguros), o painel reuniu nomes como Timothy Bishop (OCDE), Rebecca Chapman (PRI), Michèle Lacroix (SCOR) e Pedro Farme d’Amoed (Guy Carpenter), que destacaram a urgência de medidas coordenadas entre governos, setor financeiro e seguradoras.
Para Timothy Bishop, conselheiro sênior da OCDE, fortalecer a resiliência global é prioridade. “Cerca de 50% das residências enfrentam barreiras de acesso ao seguro por questões estruturais e regulatórias. Precisamos promover trocas de informação, envolver todos os atores da formulação de políticas e identificar boas práticas internacionais”, afirmou. Ele citou exemplos como o fundo de redução de riscos na Suíça e as parcerias público-privadas na Espanha para mapear áreas de inundação como caminhos a serem seguidos.
Bishop destacou ainda que o setor de seguros é peça-chave para transformar o aprendizado sobre gestão de riscos em soluções concretas. “A indústria já contribui para a mitigação com ferramentas sofisticadas. Mas é preciso reforçar a cultura do seguro e apoiar a modelagem de risco, especialmente em países mais expostos.”
Representando o PRI (Principles for Responsible Investment), rede apoiada pela ONU com mais de 5 mil signatários e US$ 120 trilhões sob gestão, Rebecca Chapman reforçou que o risco climático já afeta o valor das empresas e dos ativos. “Temos quatro áreas de foco: engajamento político, colaboração regional, mobilização de investidores e ampliação do acesso à proteção. No Brasil, vemos uma oportunidade relevante: há mais de 130 membros do PRI atuando no país.”
Chapman também defendeu uma atuação mais próxima entre investidores e reguladores. “Precisamos acelerar os planos de transição com segurança jurídica para fomentar investimentos em adaptação climática. As seguradoras têm um papel diferente de outros investidores institucionais, pois estão expostas diretamente aos efeitos físicos das mudanças climáticas.”
Michèle Lacroix, head de sustentabilidade da resseguradora SCOR, destacou que o aumento da frequência e da severidade dos desastres naturais já está pressionando diretamente os custos do setor segurador. “Estamos observando uma elevação significativa no valor dos seguros, com tendência de alta de 6% ao ano, somada a uma inflação média de 5% ao ano nos próximos períodos. Além disso, há um deslocamento crescente de populações vulneráveis, o que amplia o impacto econômico e social desses eventos”, afirmou.
Segundo ela, há uma mudança no perfil dos riscos: “Eventos climáticos secundários — como incêndios, tempestades e chuvas intensas — estão se tornando mais frequentes e severos. Em 2023, 90% das perdas seguradas vieram desses eventos. Isso mostra que o setor só consegue funcionar com dois fatores fundamentais: a mutualização e a diversificação. Sem esses pilares, não é possível oferecer seguros a preços equilibrados.”
Lacroix acrescentou que, para manter a sustentabilidade do setor, é essencial investir em prevenção, mitigação e adaptação. “Estamos passando de simples fornecedores de capital para agentes de soluções, com foco em mitigar os impactos futuros para nossos clientes. Isso inclui desenvolver expertise para segurar diferentes tipos de risco, criar mecanismos de prevenção para os mais vulneráveis e diversificar os portfólios de cobertura.” Ela reforçou que a resposta à crise climática não pode ser responsabilidade exclusiva do setor segurador. “Precisamos de ações coordenadas com formuladores de políticas públicas. A adaptação, o fortalecimento da resiliência da população e o combate às emissões de carbono são essenciais para reduzir os riscos sistêmicos associados às mudanças do clima.”
No caso brasileiro, Pedro Farme d’Amoed, CEO da Guy Carpenter Brasil, destacou os esforços para desenvolver modelos climáticos específicos para o país. “Se a temperatura média subir 2°C, o impacto de eventos como o registrado no Rio Grande do Sul pode triplicar. Desenvolvemos uma metodologia para alagamentos e estamos avançando em vendavais e incêndios”, disse.
Segundo Farme, os modelos anteriores usados no Brasil eram adaptações de estudos estrangeiros, mas agora começam a surgir ferramentas ajustadas à realidade tropical. “É um divisor de águas. Se você não conhece o risco, não pode precificá-lo — e, portanto, não pode segurar. Com dados detalhados, como CEP, latitude e até o andar da residência, podemos estimar perdas potenciais com alta precisão. Ele citou que em Porto Alegre o impacto climático pode aumentar em até 300% com o aquecimento global, enquanto no Rio de Janeiro o salto é de 270%. Em São Paulo, o aumento seria de apenas 12%.
Fuente: Sonho Seguro
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